Dos vinhos da Provence


A Provence, no sudeste da França, junto à Côte d'Azur, é uma região vinícola singular. É das poucas regiões do mundo onde o vinho rosé é o principal. É a região que produz maior volume de rosés no mundo, é a região com os rosés mais conceituados, é referência em estilo de vinhos rosés elegantes, com cores bem claras.


Localização, clima e relevo

Não existe um departamento ou sub-região oficialmente delimitado que corresponda à Provence. O que é conhecido por Provence se localiza no departamento de Provence-Alpes-Côte-d'Azur. Como região cultural, ela se estende do rio Ródano (Rhône) até a fronteira italiana, de leste a oeste, e entre os pré-Alpes e a Côte d'Azur, de norte a sul.

Porém, a Provence vinícola não corresponde exatamente à Provence 'cultural'. Se por um lado, ela inclui os vinhedos da Côte d'Azur e do Côteaux de Pierrevert, por outro, ela exclui o Lubéron (que apesar de geograficamente inserido no coração da Provence, entre as cidades de Aix e Manosque, é classificado como Côtes du Rhône).

O clima é dividido pela influência do Mediterrâneo, que traz ventos úmidos, e ameniza a amplitude térmica; dos Alpes, que trazem ventos frios na área mais a leste; e do vento Mistral: um vento frio e seco que vem do norte, canalizado pelo rio Ródano, leva embora umidade, mas pode danificar uvas e vinhas, dependendo da intensidade.


Por outro lado, o relevo é muito acidentado, com muitos maciços e montanhas, que protegem certas áreas de uma ou de outra influência. Por exemplo, montanhas a noroeste, como os Alpilles e a montanha de Sainte-Victoire amenizam a influência do Mistral em algumas áreas; e os maciços dos Mouros e do Esterèl, no litoral, protegem outras áreas da influência mediterrânea.



Denominações de Origem


A região vitivinícola da Provence é dividida em 9 Denominações de Origem. No entanto, das 9, apenas 3 estão sob tutela do Conselho Interprofissional dos Vinhos da Provence (o órgão oficial de promoção dos vinhos da região). Mesmo assim, as três denominações correspondem a 95% do total da produção. Os rosés são maioria (entre 80% e 90% da produção), com menos de 5% de vinhos brancos.

Nesta região, talvez mais do que em qualquer outra região da França, os vinhos de corte são regra. Vinhos de uma única uva são raríssimos. Por outro lado, mesmo que haja mais do que 40 variedades de uvas (tintas) autorizadas, a maioria dos vinhos é feita apenas com (algumas) das 5 principais: Syrah, Grenache, Cinsault, Mourvèdre e em menor escala, Carignan.


As três grandes

  • Côtes de Provence: é a maior denominação, e abrange praticamente 75% da produção (com mais de 20 mil hectares, não contíguos). Como é muito extensa, contém a maior diversidade de terroirs (diferentes solos e micro-climas). Por isso, ela possui algumas áreas que correspondem a sub-denominações, que demarcam áreas um pouco mais específicas (veja quais são, na próxima sessão).
  • Coteaux d'Aix-en-Provence: com pouco mais de 4000ha, é a segunda maior denominação. Os solos são predominantemente argilo-calcários, e o clima recebe forte influência do vento Mistral, o que garante pouca chuva (entre 550 e 680 mm por ano) e muitas horas de sol (em média 2900 por ano).
  • Coteaux Varois en Provence: geograficamente entre as duas anteriores, possui aproximadamente 2500ha de vinhas. Os solos são predominantemente sedimentares. Maciços rochosos entre a área demarcada e a costa limitam a influência mediterrânea, e por isso a região tem amplitudes térmicas maiores que a média da região.


As sub-denominações de Côtes de Provence

Dentro da D.O.P. Côtes de Provence, Algumas áreas ganharam status diferenciado. Foram categorizadas como sub-denominações, e possuem algumas regras específicas. Por exemplo, elas possuem limites de rendimento mais estritos que a denominação Côtes de Provence, e não contemplam vinhos brancos.
  • Sainte-Victoire: esta sub-denominação está isolada do restante da Côtes de Provence, muito próxima da cidade de Aix, ao sul da montanha que lhe dá nome. Tem clima ligeiramente mais continental, e a montanha lhe dá abrigo parcial do vento Mistral, que varre a região.
  • Fréjus: uma das áreas mais a leste da Côtes de Provence, está localizada próximo à costa, sobre o Maciço do Esterèl, com solos vulcânicos e de xisto. Em teoria, se distingue um pouco do restante por dois pontos: lá, uma variedade de uva chamada Tibouren consta entre as mais recomendadas.
  • La Londe: também localizada próximo à costa, ao sudeste do Maciço dos Mouros, com influência forte do mediterrâneo. Os solos mais valorizados são os de xisto e os de quartzito.
  • Pierrefeu: foi delimitada em 2013, e a primeira safra, lançada em 2014. Contorna a sub-denominação de La Londe a norte e a leste, terminando no litoral. Tem solo que mistura areia vermelha, argila e pedras calcárias.


As pequenas denominações

Além das citadas acima (e suas sub-regiões), há 6 outras Denominações de Origem. São as que têm identidade mais forte, pois são pequenas, e por isso muito mais concisas. Além disso, trazem diversidade aos vinhos da Provence. Há uma denominação que é reconhecida pelos vinhos brancos. Em outra, a reputação é dos tintos. Há variedades de uvas raras, únicas. Elas representam, enfim, as singularidades da Provence.

  • Cassis: denominação dos vinhos da cidade de Cassis, localizada a leste de Marselha, de frente para o mar. O principal atrativo da cidade são os calanques, formações rochosas de frente para o mediterrâneo, que cercam pequenas praias de águas de cor turquesa. Quanto aos vinhos, foi a primeira Denominação de Origem a ser reconhecida na Provence, já em 1936. Aqui, as estrelas são os brancos, produzidos a partir de corte entre as variedades Marsanne, Clairette, Ugni Blanc e outras. Normalmente, os vinhos amadurecem por mais de um ano em tanques de inox, raramente passam por barrica.
    Conheça um pouco sobre o Clos Sainte Magdeleine.
  • Bellet: localizada na cidade de Nice, os vinhedos da região são plantados em encostas às margens do rio Var. Foi uma das primeiras áreas a ganhar o status de Denominação de Origem, em 1941. No entanto, definhou até o início dos anos 90, quando restavam apenas dois produtores na região. Desde então, voltou a ganhar notoriedade, e novos produtores voltaram a se aventurar a plantar nas encostas do rio. Em Bellet, o grosso da produção é de rosés, mas os tintos também são importantes. E o diferencial da região são duas variedades de uvas, tintas, exclusivas: a Folle Noire, usada principalmente para os tintos, e a Braquet, para os rosés.
    Conheça o Château Crémat.
  • Bandol: também criada em 1941, é uma das mais reputadas, e isso se reflete nos preços dos vinhos. O seu foco é a produção de rosés (77%) e tintos (19%), com grandes porcentagens de Mourvèdre. Seus tintos têm que estagiar por pelo menos 18 meses em barricas.
  • Palette: a menor denominação da região, com apenas 50ha demarcados, localizada a 3Km da cidade de Aix-en-Provence, foi estabelecida em 1948, e contempla apenas 5 produtores, sendo que o Chateau Simone corresponde a mais de 50% da produção. Eles têm vinhas centenárias e misturadas, com variedades quase extintas espalhadas no meio dos vinhedos.
    Conheça um pouco dos vinhos do Château Simone.
    Conheça o Domaine Henri Bonnaud.
  • Les Baux de Provence: o nome da região faz referência ao mineral predominante no solo, a bauxita. Esta A.O.P. é a mais ocidental da Provence, a mais próxima do rio Rhône, e por isso, a que recebe maior influência do vento Mistral. Este vento, que sopra a partir do norte, é frio e seco, e garante às uvas proteção contra fungos. Não é à toa que todos os produtores da região são biodinâmicos, orgânicos, ou no mínimo, certificados como praticantes de agricultura raisonnée (uma certificação francesa que rege a agricultura em termos de impacto ao meio ambiente, saúde e bem estar dos animais; ela é o equivalente à certificação de agricultura integrada européia). Aqui, o principal são os vinhos tintos, feitos a partir de Syrah, Grenache e Mourvèdre.
    Conheça um pouco sobre os vinhos do Domaine des Terres Blanches.
  • Coteaux de Pierrevert: é a denominação que se localiza mais ao norte da Provence. Tem uma crise de identidade. Se por um lado está no coração da Provence cultural, às vezes é esquecida dentro da Provence vitivinícola.
    Conheça os vinhos da Cooperativa de Pierrevert.


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